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Modelo Educacional Imposto Pela Pandemia

Tempo de leitura: 7 min

Escrito por Apolo Rubens Chalababa

Modelo Educacional Imposto Pela Pandemia

Modelo Educacional Imposto Pela Pandemia

Após a pandemia de 2020, um novo modelo educacional emergencial foi imposto pelas circunstâncias independentemente de intenções políticas, que geralmente costumam estar por trás de modelos educacionais.

Para os professores que trabalham um modelo improvisadamente híbrido é muito questionável gastar o pequeno tempo de um aluno conectado ensinado conteúdos que serão inúteis em sua vida. A inutilidade de certos conteúdos já é comprovado por gerações de formados. 

Inevitavelmente um questionamento surge: Como investir o tempo de um aluno ao invés de gastá-lo?

É necessário considerar as várias individualidades que cercam um aluno. Para atingir e engajar alguém é necessário considerar sua cognição, habilidades, gostos pessoais, a individualidade da escola, do bairro, familiar, poder aquisitivo, cultura, existência de conexão, device, entre outras considerações.

É quase uma consequência certa que muitos dos conteúdos impostos às escolas se tornaram mais inadequados ainda. Isso não significa que devemos eliminar a matemática ou a história dos currículos, mas selecionar conteúdos mais significativos ou formas mais significativas de explorar os mesmos assuntos. 

É necessário atualizar os conteúdos para que os educandos possam utilizar que aprenderam para entender e colaborar para redução dos danos causados pelo ser humano no planeta. Talvez a matemática precise ceder um pouco de tempo para que outras disciplinas e conteúdos mais importantes possam protagonizar essa ação.

Nem sempre uma educação que estimula a individualidade é um modelo interessante para uma sociedade global. Considerar o coletivo, partindo do nosso entorno e se desenvolver como parte consciente de um todo interdependente é primordial para diminuir diferenças sociais e, consequentemente, globais. Algo necessário, mas não suficiente para prolongar nossa permanência neste planeta. 

Diante da complexidade do mundo de agora, é pouco provável que exista algum ser humano capaz de entendê-lo por completo. Entender tudo é pouco provável também quando consideramos partes desse mundo como, por exemplo, a medicina, a história, o futebol e a matemática.

Aluno Global

Muitos dos aluno que conseguiram se conectar com seus professores passaram a fazer escolhas que antes eram reservadas aos professores, as escolas ou nem sequer existiam. 

Entre essas escolhas podemos citar a ação de fazer uma tarefa coletiva online, a ação de participar de um debate ou leitura e a escolha de ser visto. 

Se você é professor(a) que ensina matemática, provavelmente teve ou tem algum aluno que precisava ser encorajado e convencido a fazer as atividades.

Nem sempre os alunos estavam dispostos ou confortáveis. E agora? Como fazer esse aluno a pensar alguns minutos sobre algo? 

Alguns alunos reservados e quietos, que reagiam timidamente aos comandos dos professores, têm escolhido a segurança do silêncio e da câmera desligada. Que julgamentos pode sofrer alguém que não é visto nem escutado? Essa estratégia não é utilizada só na escola.

Infelizmente os alunos globais são menos numerosos do que aqueles que ainda não conseguiram se conectar. Certamente para os que estão impedidos de aprender algo longe das escolas as consequências tendem a ser desfavoráveis.

Precisamos lembrar que antes da pandemia de 2020 já existiam alunos impedidos de frequentarem a escola por questões culturais, regimes totalitaristas e, principalmente, pobreza.

Como a imagem destacada neste artigo sugere, em algumas localidades os habitantes não têm condições adquirir um caderno, às vezes, nem uma escola existe para se frequentar.

Antes dos nossos alunos se desconectares já haviam muitos que jamais estiveram conectados. Um problema histórico que se agravou com a improvisação de um modelo educacional imposto pela pandemia de 2020.

As Aulas de Matemática Depois do Modelo Educacional Imposto Pela Pandemia de 2020

É comum encontrarmos pessoas que têm ou tiveram a sensação de incapacidade diante de um certo tema do conhecimento e, que, em algum momento, se questionaram sobre a necessidade de conhecê-lo. Assim, diante da incerteza do saber, muitos desses alunos deixaram de fazer tarefas e processar informação que os professores transmitiam. 

Hoje, mais do que nunca, nos baseamos na expertise de outros para realizar quase todas as nossas atividades e suprir nossas necessidades. Temos a impressão de que sabemos mais, mas nunca soubemos tão pouco sobre ser humano.

Um fenômeno parecido acontece no campo da educação, inclusive na educação matemática. A matemática que é ensinada nas escolas hoje foi escolhida dentre os tópicos de matemática fundamentais para atender uma sociedade que utilizava réguas de cálculo e tabelas de logaritmo. 

De certa forma, é inaceitável que a matemática e a maneira como a matemática é ensinada nas escolas não tenha sofrido praticamente nenhuma mudança diante de tantas mudanças sociais e tecnológicas.

Já faz um bom tempo que muitas das tarefas realizadas por humanos foram delegadas a softwares e aplicativos. Porém, a matemática ensinada nas escolas é praticamente a mesma há décadas.

É mesmo necessário exigir que os alunos realizem todas as tarefas de matemática manualmente?

A Ilusão do Conhecimento

Essa é uma questão bastante discutida entre os profissionais que ensinam matemática, pois é comum os alunos sofrerem de um fenômeno chamado de “a ilusão do conhecimento”. Como o próprio nome sugere, esse fenômeno consiste em acreditar que se sabe algo que de fato ainda não foi apreendido. 

Isso acontece quando se trata o conhecimento do outro como se fosse próprio. O agravante é que esse fenômeno está sendo projetado em objetos e em banco de dados. 

É cada vez mais comum encontrar pessoas que acreditam que sabem multiplicar somente por fazer uso de uma calculadora e, pelo mesmo motivo, acreditam que sabem história por terem acesso imediato à datas de acontecimentos históricos. 

Utilizar algo não garante que se compreenda seu funcionamento, mesmo que seja um objeto simples como um martelo ou faca, por exemplo. Da mesma forma, realizar operações com a calculadora não garante que se tenha compreendido o processo de adição. 

O Conhecimento Alheio

Vale a pena distinguir aqui dois tipos de posturas em relação ao conhecimento alheio: o indivíduo que utiliza o conhecimento do outro e o indivíduo que pensar possuir o conhecimento do outro por utilizá-lo. Utilizar o conhecimento de outros é um dos motivos que nos fizeram evoluir até o momento. Não chegaríamos até aqui se tivéssemos que fazer um esforço tremendo para entender tudo por nós mesmos.

Pensando em evolução, confiar no conhecimento do outro se mostrou muito eficiente.

Diante disso, cabe refletir sobre a o quanto é interessante para um indivíduo atual ficar milhares de horas praticando e desenvolvendo habilidades matemáticas que poderiam ser transferidas a aplicativos.

Cabe refletir também sobre o quanto que esse mesmo indivíduo vai deixar de entender os conceitos fundamentais da matemática que foram assimilados por nossos antepassados a custas de milhares de horas de prática e posteriormente transmitidos por milhares de horas de aulas que, por sua vez, exigiram milhares de horas de preparação.

Uma questão sem precedentes, assim como muitas outras questões atuais.

Uma Questão Atual

Quanta matemática precisamos saber na sociedade pós-pandemia 2020?

A matemática necessária nas eras passadas certamente não é a mesma matemática diante do modelo educacional imposto pela pandemia de 2020. 

As redes sociais mostraram que expor as pessoas a mais informações não melhora a condição e a compreensão delas sobre fenômenos naturais e sociais.

É difícil convencer alguém a mudar de opinião apresentando planilhas e estatísticas. As redes sociais aumentaram o poder de pensamento de grupo, que é penetrante e difícil de ser alterado mesmo quando parece ser bastante arbitrário e contraditório.

Nesse sentido, a ilusão do conhecimento torna a maioria das pessoas fechadas em grupos virtuais de amigos em feeds de notícias personalizados que alto confirmam suas ideias e opiniões. 

Uma característica humana que se reflete nas bolhas sociais: há pouco espaço para perceber a própria ignorância, reconhecer problemas, reconhecer limitações próprias e ser desafiado.

Ocupados Demais Para Aprender

Se você quiser aprender um assunto vai precisar de tempo. Se você quiser se aprofundar em um assunto vai precisar de muito tempo e principalmente do privilégio de ter tempo.

O processo de aprendizado precisa de tempo. É preciso experimentar caminhos improdutivos, explorar becos sem saída, vivenciar o tédio, vivenciar a dúvida, esperar que ideias germinem e floresçam, cada uma a seu tempo.

O mundo de hoje é muito complicado para uma única pessoa compreendê-lo. Não adianta dispor de agência de inteligência e conselheiros. Para saber algo é preciso de tempo para aprender. Assim também é com a matemática. 

Se não somos capazes de compreender o mundo, como podemos esperar saber qual é a diferença entre o certo e o errado, entre a justiça e a injustiça?

Bibliografia

HARARI, Y. N. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

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